Trago em mim dois lumes
Um me clareia o caminho
O outro me pede que esfume.
Trago em mim o farol e o estrume.
Trago também duas pontes:
Uma a ponta pra quando
a outra me alça pra onde.
São dois os meus trabalhos
Num, devoro a calma
No outro, a pressa retalho.
Com as duas mãos me jogam o baralho.
Tenho ainda duas pernas
Disjuntas – o infinito no meio
Apartam-se, apertam-se nelas
As farpas da faca-bloqueio.
Uma faz que não, outra diz a que veio.
Apresento duas caras:
Uma é polpa, a outra se poupa
Trago, mas drago, a essência das frutas raras
Visto, mas dispo, a esfarrapada roupa.
Esse duplo em corte se assume
Pelos talhos, passam dois gumes
Fazedores do inciso sem fim:
Um doeu, outro do mim.
Sandra N Flanzer, inédito