Sempre que saio por esta porta que não abro
deixo um passado que insiste em ser advir
Pois se esta porta não acolhe futuro imediato
a mim importa o que ela escolhe concluir
Sei que toda passagem feita é derradeira
sei também que nada resta, pois de fato
ao atravessá-la, abandono sorrateira
as devidas horas em que me faço em ato
Assim contorno a maçaneta que me expulsa
dou voltas na chave desta porta que não cede
saio de banda, disfarçando o que ainda pulsa
finjo não-retorno, negando o que ainda pede.
Sandra N. Flanzer, in “a pa-lavra”